Belas ilhas serviram de prisão por muitos anos e hoje são atrativos turísticos em todo o mundo.
Alguns dos pontos turísticos mais cobiçados do mundo já foram abertos exclusivamente para um público bem seleto e diferenciado: prisioneiros. Muitos desses lugares eram distantes do continente, de difícil acesso, rodeados pelo alto mar e seus tubarões e, portanto, quase impossível de sair. Por isso, verdadeiros paraísos tropicais foram transformados em prisões de segurança máxima, como a famosa Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, que serviu de colônia penal francesa até o ano de 1946. Para lá eram mandados presos políticos e homens condenados à prisão perpétua. Hoje, muitas dessas ilhas foram abertas ao público e atraem turistas que vão atrás de natureza, aventura e descanso.
Há ainda as que viraram museus, como a Isla de los Alcatraces, que por muitos
anos abrigou a prisão de Alcatraz, nos Estados Unidos, e recebeu prisioneiros que viraram celebridades, como o mafioso Al Capone e Robert Stroud. Entre 1830 e 1877, Port Arthur, na ilha da Tasmânia, também teve o mesmo destino e hoje é considerado Patrimônio Mundial da UNESCO. Para chegar às ruinas do presídio, os passeios de barco saem da Ilha dos Mortos, onde apenas 180 dos 1.646 túmulos possuem registros. A principal atração do lugar é voltada apenas ao público adulto e os visitantes utilizam um equipamento profissional para tentar detectar fantasmas e atividades paranormais, de homens que foram assassinados enquanto cumpriam penas.
Mas não é preciso ir tão longe para conhecer histórias incríveis como essa. Um dos mais famosos pontos turísticos do Brasil, a Ilha de Fernando de Noronha, já foi um destino voltado apenas para prisioneiros políticos. Ela foi construída em 1737 e ficou conhecida como “O depósito dos desvairados”, funcionando como cárcere por 200 anos. Na época o temor que os detentos fugissem era tão grande que foi ordenada a destruição de todas as árvores que pudessem servir para a construção de barcos ou canoas. Ainda assim, alguns corajosos se arriscavam na longa travessia de volta ao continente em embarcações improvisadas. Apesar da “prisão” não ter muros que os impediam de fugir, 545 quilômetros de água separavam o arquipélago do Recife.
Em 1938, por determinação do então presidente Getúlio Vargas, o local se tornou uma cadeia política e abrigou nomes como o militante Carlos Marighella e o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes. Apenas em 1942, os presos foram transferidos para outro presídio e partir de 1988 é que o arquipélago voltou a ser considerado parte de Pernambuco. Alguns dos lugares que abrigaram os presos resistiram para contar a história, como a Vila de Nossa Senhora dos Remédios. “Ainda hoje é possível encontrar vestígios dessa época, como os prédios construídos pelos presos na Vila. Como a infraestrutura era precária, eles próprios eram responsáveis por erguer essas moradias e outras construções, como armazéns e vilas que são habitadas até hoje”, explica Gustavo Longman, à frente das pousadas Ecocharme na ilha, que disponibilizam passeios pelas ruínas. “Com duração de cinco horas, o caminho passa, ainda, pelas ruínas do Forte de São Pedro do Boldró, dos antigos presídios, casarios e igrejas, terminando em um banho de mar nas praias do Americano e do Boldró”, explica Longman. Hoje, Fernando de Noronha é considerada pelo Tripadvisor como a ilha mais bonita da América Latina.
No Rio Grande do Sul, é possível encontrar a Ilha do Presídio, que foi depósito de pólvora nos tempos do Império e já se chamou das Pedras Brancas. Lá também funcionou um laboratório de pesquisa da peste suína na década de 1950 e hospedou prisioneiros a partir de 1956. Pertencente ao município de Guaíba, o local recebeu presos políticos como Raul Pont, Carlos Araujo e o juiz João Carlos de Bona Garcia, durante a ditadura militar (1964-1985). Um fato histórico da época foi a fuga de Julio de Castilhos Pitinelli, que boiou até o litoral de Guaíba em duas panelas, pouco antes do fechamento da prisão que hoje, como tantos outros destinos semelhantes, atrai turistas que não pensam em ir embora um instante sequer.