Viajando ao Peru sozinha. Por que não? - Parte I


Eu não era marinheira de primeira viagem em 2012 quando decidi viajar ao Peru. Já tinha ido aos EUA, Aruba, Curaçao... Mas era a primeira vez que eu viajaria de férias sozinha. Não poderia ter escolhido destino melhor para essa odisséia. A viagem foi decidida e organizada em um curto espaço de tempo.

Como iniciante na arte de organizar minhas próprias viagens os atropelos foram inevitáveis, mas lá na frente falo deles.


Parti de Recife para Lima pela TAM. O trecho Recife / Lima / Recife foi adquirido com milhas.

Lima

Reservei apenas um dia para Lima e fui infeliz com a decisão (1º atropelo). Só depois, com a viagem organizada é que me dei conta que estava indo a um dos mais badalados destinos gastronômicos do mundo. Naquele ano o País foi vencedor do prêmio World Travel Awards na categoria de gastronomia. E agora, em 2014, não deixou a desejar e abocanhou o prêmio de melhor destino gastronômico da América do Sul, e Lima como melhor destino de legado e cultural da América do Sul, na premiação regional do World Travel Awards 2014. Não à toa, seu centro histórico é conservadíssimo e na cidade há importantes ruínas do século IV.

Cheguei a Lima no final da tarde. Contratei um transfer lá mesmo no aeroporto e segui para o Hotel em Miraflores. Ainda não estava preparada para me aventurar com ônibus ou táxis sozinha. Falar em ônibus o transporte público lá deixa a desejar, mas você pode recorrer aos táxis, o preço é bom. Contudo, se vai viajar sozinha, acho a ida e volta ao aeroporto mais segura com transfer ou táxis credenciados nos hotéis. O bairro de Miraflores e o de San Isidro são os melhores pra você ficar em Lima. Há excelentes opções de hotéis no booking e no Decolar (Detalhe: no Decolar há vários hotéis que parcelam em até 6 vezes sem juros). Em Miraflores você também encontra albergues legais. O bairro é repleto de restaurantes, lojas, bares e ainda tem o Shopping Lacomar, construído encrustado numa falésia com vista para o pacifico. Vale a pena dar uma passadinha por lá. Esse bairro é bem badalado e ainda tem muita cultura, fica nele o sítio arqueológico Huaca Pucllana.

Considere também se hospedar nas imediações do centro da cidade, se o preço e as avaliações do local forem atraentes, por ali você fica perto de tudo que interessa no quesito viagem cultural.

Vista do Restaurante La Rosa Náutica
A noite segui para jantar no Restaurante La Rosa Nautica, visita obrigatória para quem vai à Lima. Além da excelente culinária a beleza do restaurante é um espetáculo à parte. É construído num píer sobre o Pacífico. Os preços não são populares, mas se comparado aos restaurantes do mesmo nível no Brasil, não é caro.

Ao retornar ao hotel um choque de realidade. No hotel que fiquei a internet não funcionava, na tv programas pouco interessantes principalmente para os que não dominam a língua local, enfim, uma solidão sem tamanho. Pensei: o que estou fazendo aqui sozinha? Podia estar em casa, assistindo TV na sala animada, tomando um café na cozinha com a minha mãe... Mas estou sozinha num quarto de hotel por livre e espontânea vontade. Confesso que pensei em comprar uma passagem para voltar no dia seguinte. Felizmente não o fiz. A viagem me surpreendeu, considero um divisor de águas e hoje repito: se não voltei de Lima naquela ocasião, não volto de lugar algum (antes da hora, claro, voltar para casa é tão ou mais prazeroso do que sair pelo mundo).

No dia seguinte saí para um tour pelo centro histórico, destino Plaza Maior, também conhecida como Plaza das Armas porque durante o processo de independência era lá que os soldados se reuniam. Contratei um tour guiado, mas você pode fazer essa empreitada sozinho se desejar. É possível percorrer os pontos mais interessantes do centro histórico a pé ou com o auxílio de um táxi se o cansaço chegar. Logo me enturmei com duas professoras cariocas que estavam no grupo. Já haviam ido à Cusco e Machu Picchu. Lima era seu destino final. Ganhei delas umas boas dicas e uns bombons de coca que foram importantíssimos quando cheguei à Cusco.

O centro histórico de Lima foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1991. O lugar encanta pelo convívio harmonioso do passado, valorizado e conservado, com os ares de uma metrópole moderna.

Plaza Mayor
Ao chegar ao centro da Plaza Maior você logo se depara com um lindo chafariz que foi desenhado por Gustave Eiffel, o arquiteto responsável pelo projeto da torre francesa que foi batizada com seu nome. Na praça se concentra o Palácio do Governo, que foi a antiga morada de Francisco Pizarro (conquistador espanhol que entrou para história como o “conquistador do Peru”), a Casa do Ouvidor, o Palácio Municipal, o Palácio Arquiepiscopal de Lima, a Catedral que abriga o túmulo de Pizarro e Convento de San Francisco, cujas galerias subterrâneas serviram como cemitério colonial e podem ser visitadas.

Para visitar o convento você paga 7 Soles (moeda peruana), que equivale a pouco mais de R$ 5,00. A entrada dá direito, ainda, a visitar a galeria do museu e ao passeio nas catacumbas. Posso dizer sem vergonha alguma: é sinistro! Milhares de ossos se avolumam, por vezes jogados e algumas vezes formando círculos e ornamentos com centenas de crânios e fêmures. Tudo isso devido a falta de cemitério local até o começo do século XIX. Então, os mais abastados pagavam a igreja para ter seus entes queridos sepultados ali. E aqui faço um alerta: avalie se é um programa que você curtiria. Primeiro, pelo impacto visual. Segundo, pelo forte cheiro de mofo e terra velha. Pode até lembrar putrefação, mas não é, já que os últimos sepultamentos ali ocorreram há mais de 200 anos.

Centro de Lima

Ali perto você encontra o Museu da Inquisição , o prédio da Bolsa de Valores, o Museu Nacional e toda a vida corrida dos peruanos da metrópole. Bares, restaurantes, mercados, feiras, enfim, é lá que você conhece Lima de verdade.

No início da tarde segui para conhecer Huaca Pucllana, um sítio arqueologico no meio de Miraflores, sim, em Lima, em meio aos prédios residenciais. Lá funciona um museu que pode ser visitado de quarta a segunda, das 9h às 17h e custa cerca de R$ 10,00 com meia entrada para estudantes e professores. No passado o local era destinado ao centro administrativo e cerimonial da Civilização Inca.

O lugar surpreende pela grandiosidade das ruínas de uma pirâmide e é claramente dividido em setores mostrando todo conhecimento administrativo que se tinha na época.

Terminei o dia visitando o Lacomar e apreciando a vista para o pacifico. Como eu disse, pouco tempo em Lima. Ficou um gostinho de quero mais. Quando for ao Peru reserve ao menos três dias para Lima, você não vai se arrepender.


Palácio da Justiça

Cusco 

Cheguei à Cusco no meio da tarde. Fui de transfer para o hotel, mas durante toda minha estada utilizei táxis, são baratos e não me senti insegura ao usá-los. Lá não há taxímetro, então sempre que for pegar um consulte alguém do local sobre o preço da tarifa, assim você vai garantir que não vão te cobrar a mais. Comigo não aconteceu nenhuma vez, sempre cobravam o preço que as pessoas me informavam.

Ainda no aeroporto a funcionária do transfer me advertiu a andar devagar: aqui você vai se cansar mais rápido, disse ela.

A recomendação é oportuna. Cusco está localizada a uma altitude que varia entre 3.400 e 3.800 metros. A essa altura o ar é rarefeito e os efeitos são logo sentidos pelo organismo (os peruanos chamam de soroche). Algumas pessoas sentem náuseas, falta de ar, tontura e dor de cabeça. Então é provável que você precise de um tempo para se adaptar. Também é bom não esquecer o protetor solar, há um aumento na intensidade dos raios solares em regiões altas.

Chegando ao hotel, enquanto a recepcionista preparava meu check-in, uma funcionária logo chegou para me servir um chá da folha da coca. A planta é muito comum na região e costuma ser usada para aliviar os sintomas causados pela altitude. É bom ficar logo sabendo: a bebida não tem efeito alucinógeno, então fique tranquilo para provar!!! Para alguns, o sabor não é muito agradável, mas como apreciadora de chá, confesso que gostei muito, tomei durante toda a minha estada no Peru, não raro várias vezes ao dia. Talvez por isso, apenas no primeiro dia senti uma tontura (lembram das professoras que conheci em Lima? Os bombons de coca que elas me deram foi meu socorro no meio da noite, o quarto literalmente rodava) e mais tarde, no caminho para Puno, um desconforto respiratório. No mais era só andar devagar, sem muito esforço. Senti falta do chá quando retornei ao Brasil, além das propriedades contra os males da altitude, percebi que ele te deixa mais disposta e tira um pouco a fome. A planta deve ser fruto da criação de alguma Deusa Inca vaidosa.
Chá da folha da coca

Onde se hospedar

Táxi em Cuzco
A vida em Cusco gira ao redor da Plaza das Armas. Lá você encontra restaurantes, danceterias, agências de turismo, casa de cambio e de artesanato, lojas de roupas feitas com a famosa lã de alpaca e lojas que vendem produtos feitos com prata peruana. Nesse quesito super indico a Ilaria (www.ilariainternational.com). Lá você encontra peças belíssimas em prata e com preços semelhantes aos das bijuterias brasileiras de qualidade. Saí com algumas belas aquisições e um arrependimento: não ter comprado mais. 

Com toda essa movimentação o bom mesmo é se hospedar naquela região. Há vários hotéis na praça e nas ruas laterais. Não fiquei hospedada por lá (2º tropeço), meu hotel ficava um pouco distante. Lembro-me de na primeira noite, voltando da Plaza das Armas, ter descido de dois táxis porque os motoristas não sabiam onde era o hotel que eu estava, mas como eu disse antes, táxi é barato, então, se você encontrar uma hospedagem com preço bom e boa avaliação fora da região que fervilha, a despesa com táxi vai compensar. Só não esqueça de levar o endereço do hotel, vai lhe ajudar com os taxistas. Do mesmo modo você não vai ter problemas para fazer os passeios, as empresas costumam recolher os visitantes nos hotéis. Detalhe importantíssimo: eles são muito pontuais. Então esteja na hora marcada no saguão do hotel, do contrário eles vão embora sem você.


Plaza das Armas


Comer em Cusco

Nas imediações da Plaza das Armas há muitos restaurantes. Há opções para todos os bolsos e gostos. Desde a legítima cozinha peruana até uma creperia, tem de tudo. Em Lima a guia havia me falado sobre o Cuy, prato típico da região que nada mais é do que um porquinho da índia servido inteiro. Isso mesmo! Ele vem inteiro no prato. Confesso que embora seja apreciadora e curiosa no quesito gastronomia, afinal é uma das melhores formas de conhecer a cultura do local que você visita, o Cuy não me apeteceu. Fiquei bem seduzida pela carne de alpaca. Lá você encontra em receitas típicas da região, como as servidas com quinua, e em versões mais contemporâneas, a exemplo da acompanhada com batatas fritas.

No quesito carne, uma das melhores pedidas foi o Inka Grill. Se você pretende reservar uma noite para degustar um vinho e uma comida sofisticada, lá é uma das opções. Fica na Plaza das Armas, certamente você vai passar na frente algumas vezes enquanto bate pernas pela região.

Mesmo que você seja uma daquelas pessoas que não costuma se empolgar em provar novos sabores, se aventure nos sabores andinos. Há pratos deliciosos feitos com quinua, com os muitos tipos de batatas que há por lá (muitas desconhecidas por nós brasileiros) e com a variedade de milhos (maiz, para eles). São cerca de 35 espécies do cereal. Jantei cada noite em um restaurante diferente e aproveitava a ocasião para bater papo. Cusco é cheia de viajantes do mundo todo. Quando você viaja sozinho acaba conhecendo muita gente porque não está fechado no seu grupo.

La Bondiet
Variando no jantar, mas repetindo o lugar do café no fim da tarde. Os que me conhecem sabem que não dispenso um cafezinho acompanhado de uma iguaria. Nesse quesito virei cliente fiel da La Bondiete durante minha estada. Lá servem bolos, massas folhadas, pães... E lógico, um bom café. E ainda é um bom lugar para você bater papo com outros aventureiros.

Também não deixe de provar o Pisco Sour. Bebida típica da região preparada a base de limão e pisco, aguardente de uva produzido na região. Você vai encontrar em todos os bares e restaurantes. Lembra nossa caipirinha. Provei, aprovei e ainda trouxe umas garrafinhas de pisco na mala na esperança de reproduzir a bebida em casa. Não fui muito competente nesse quesito, mas a reunião com as amigas para mostrar as fotos da viagem foi regada a pisco e acreditem, ele foi aprovadíssimo!

Cusco é mais que uma simples rota para Machu Picchu. Quem vai a Machu Picchu nem imagina que Cusco, além de porta de entrada para região, tem seus próprios encantos. Há sítios arqueológicos incríveis na área da cidade, construções belíssimas e alguns museus.

Saí pela manhã do segundo dia em Cusco para conhecer a cidade e os sítios das redondezas. Comecei o dia visitando a Catedral de Cusco. É simplesmente linda e grandiosa. Com características do estilo renascentista maneirista, gótico e do barroco, tem três naves e 12 capelas no seu interior, que destaco, é repleto de pinturas riquíssimas.

Antes de seguir falando o que ver, vai logo uma dica. Em Cusco há bilhetes combinados que dão direito a acessar vários pontos turísticos. São administrados pela Comissão de Serviço Integral Turístico Cultural COSITUC e você pode comprar em vários pontos da cidade. O completão inclui 16 atrações e custa 130,00 Novo Sol (a moeda peruana), cerca de R$ 105,00. Segue a lista das atrações incluídas:

Museu Histórico Regional
Museu de Arte Contemporânea
Museu de Arte Popular
Museu de sitio Koricancha
Centro Qosqo de Arte Nativa
Monumento ao Inca Pachacutec
Sacsayhuaman
Q’enqo
PukaPukara
Tambomachay
Pisac
Ollantaytambo
Chinchero
Moray
Tipon
Piquillacta

Mas se você não pretende visitar todos esses pontos, há bilhetes que combinam 4 ou 5 atrações. Se vai em grupo, é estudante ou professor, não deixe de ver as opções de descontos. Não conheci todos os pontos, comprei um bilhete que inclui algumas das atrações.

Continuando, da catedral parti para o Qorikancha Convento de Santo Domingo. O convento recebeu esse nome por ter sido construído sobre o templo Qorikancha. Tem seu charme, mas nada espetacular.



O mesmo não se diga de Sacsayhuaman. São ruínas de uma construção impressionante. De acordo com historiadores Sacsayhuaman era uma fortaleza militar. A construção é formada por muralhas construídas com pedras perfeitamente encaixadas, característica marcante das construções do povo inca. Infelizmente quando os espanhóis ocuparam o Peru transformam o local numa imensa pedreira, de onde retiraram materiais para suas construções. O que sobrou impressiona pela grandiosidade. Fiquei imaginando como era aquela construção.






Terminei o dia no Mercado Central de San Pedro. Foi lá onde fiz boa parte das minhas compras no Peru (foram muitos souvenirs...). Mantas feitas com lã de alpaca, artesanato em couro e cerâmica, chaveiros em formato de lhamas, de tumi (instrumento cerimonial sobre qual rezam algumas lendas ligadas a medicina)... Lá você vai encontrar uma lembrancinha até para aquele tio mais distante.


A noite segui para Plaza das Armas, jantar, bater papo e ficar vendo o mundo (as pessoas do mundo) passar na minha frente: alemãs, americanos, espanhóis, japoneses... e claro, muitos brasileiros).



Depois conto mais!

Alesandra Bezerra


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